
Evento reuniu representantes latino-americanos, europeus e africanos, que se somaram para “romper o muro de silêncio erguido pelo reinado do Marrocos e lutar pela descolonização”
A II Conferência da Federação Internacional de Jornalistas e Mídia em Solidariedade ao Saara Ocidental, encerrada em Buenos Aires na última sexta-feira (30), decidiu “ampliar os esforços para romper o muro de silêncio erguido pelo reinado do Marrocos e fortalecer a rede de informação pela descolonização dos territórios ocupados”. Afinal, como expressaram os delegados presentes, é preciso respaldar a República Árabe Saarauí Democrática (RASD) e visibilizar a afronta que representa o fato de seu território ser “a última colônia na África”.
Ao coro de “Saara livre, Malvinas argentinas!”, representantes latino-americanos (Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba, Honduras, Paraguai, Venezuela e Uruguai), europeus (Espanha, Itália e Portugal) e africanos (Saara Ocidental), somaram entusiásticos aplausos à apresentação do grupo Tuiza. Composto por jovens que transbordaram a cultura saarauí, o Tuiza agigantou com riqueza de cores e danças o fechamento da cerimônia.
Organizado pela Rede de Jornalistas em Defesa do Povo Saarauí, coordenada por Mariano Vázquez e Dayana López Villalobos, a Frente Polisário, a Central de Trabalhadores da Argentina (CTA-Autônoma) e a Associação dos Trabalhadores do Estado, o evento demarcou campo com a mentira, a alienação e a manipulação, utilizadas como armas nas cinco décadas de ocupação pelo Marrocos.
A solidariedade internacional se expressou com força no composto por Lofti Sebouai, embaixador argelino; Pedro Pablo Prada, embaixador cubano; e Mohamed Alí Alí Salem, representante da Frente Polisário na Argentina. Todos focaram na relevância da luta colonial.
“A CTA É TERRITÓRIO SAARAUÍ”
Cachorro Godoy, secretário-geral da CTA-Autônoma, fez questão de sublinhar que “nossa central é território saarauí e ter este encontro em nossa casa é um afago na alma, porque sempre apoiamos e continuaremos apoiando esta causa”.
Ahmed Ettanji, diretor da Equipe Media – grupo dedicado a romper o bloqueio informativo marroquino – declarou ser “uma honra compartilhar uma realidade que foi silenciada, negada ou distorcida por décadas: a situação no Saara Ocidental e a luta do povo saarauí”. “Mas hoje não falo apenas de uma perspectiva geopolítica ou histórica, mas também de uma perspectiva comunicacional. Porque, neste conflito, a comunicação não é uma dimensão secundária: é um campo de batalha”, enfatizou.
Fatma El Galia, presidente da Liga dos Jornalistas e Escritores Saarauís na Europa, apontou o valor deste fórum internacional “que destacou o trabalho das mulheres saarauís como escritoras, radialistas e apresentadoras”. Mulheres, frisou, que “desde os primeiros anos do exílio e com recursos humanos e tecnológicos mínimos, mantiveram viva a voz do povo saarauí, sua história e sua cultura por meio da mídia nacional nos campos de refugiados”.
Entre as principais decisões do evento estão o de “aumentar o fluxo de jornalistas, comunicadores e veículos de mídia aos territórios ocupados, acampamentos de refugiados e zonas liberados do Saara Ocidental para documentar a situação e dar voz ao povo saarauí” e “apoiar o trabalho midiático na RASD, contribuindo com assistência técnica, logística e formação a jornalistas e trabalhadores dos meios de comunicação” àquele que “é um dos 17 territórios pendentes de descolonização pelas Nações Unidas”.
REGIME DO MARROCOS CONDENA JORNALISTAS À PRISÃO PERPÉTUA
Os participantes manifestaram apoio à Marcha pelos Presos Políticos, que se encontra atualmente em viagem pela Europa, com destino à prisão de Kenitra, no Marrocos, “para sensibilizar a população sobre a situação dos presos políticos saarauís nos cárceres marroquinos”. Em particular, sublinharam, “condenamos a criminalização da atividade jornalística pelo regime do Marrocos, “que detém jornalistas por exercerem a sua profissão: Abdalahi Lekhfauni, condenado à prisão perpétua, da Equipe Media; Hassan Dah (25 anos de prisão), da RASD TV e Rádio; Mohamed Lamin Haddi (25 anos), da RASD TV e Rádio; El Bachir Khada (20 anos), da Equipe Media; Khatri Dadda (20 anos), da Salwan Media; e Mahmud Khambir (10 anos), da Smara News”.
Demonstrando profundo respeito e apreço pelo trabalho de comunicação social já desenvolvido, recordaram que “há mais de 50 anos, a Rádio Nacional Saarauí, a Televisão Saarauí e a Agência de Imprensa Saarauí (SPS) têm sido porta-vozes essenciais da luta do seu povo, que enfrenta a censura, a precariedade e o bloqueio de informação imposto pelo Marrocos”. Da mesma forma, reconheceram que nos territórios ocupados “os meios de comunicação nacionais e independentes criam conteúdos valiosos e arriscados através das redes sociais, trazendo à luz as violações sistemáticas dos direitos humanos cometidas pelas autoridades marroquinas contra a população saarauí”.
Diante disso, realçam também o trabalho da União dos Jornalistas e Escritores Saarauís e da Liga dos Jornalistas e Escritores Saarauís na Europa, “que geram e disseminam conteúdos da diáspora, reforçando a visibilidade internacional da causa e contribuindo para quebrar o bloqueio midiático”.
Sob o lema “Jornalismo e ação pela descolonização do Saara Ocidental”, a II Conferência elegeu os brasileiros Leonardo Wexell Severo (Hora do Povo) para a Federação Internacional e Dorgil Silva (TV Comunitária de Brasília/Asaarauí) para a Rede Latino-Americana de Solidariedade.