
Dando continuidade à política genocida contra o povo palestino, forças fascistas israelenses interceptaram ilegalmente, em águas internacionais, o barco Madleen, que levava suprimentos humanitários aos famintos da Faixa de Gaza
Na madrugada desta segunda-feira (9), tropas nazisraelenses sequestraram os 12 ativistas na embarcação Madleen, que navegava em águas internacionais, após mais de uma semana atravessando o Mediterrâneo, quando se encontravam próximos à Faixa de Gaza com suprimentos humanitários, como filtros de água, medicamentos e alimentos.
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Entre os integrantes da Frota está a sa de origem palestina, Rima Hassan, jurista e deputada do Parlamento Europeu; o jornalista francês Yanis Mhamdi, autor do documentário “Netanyahu: retrato de um criminoso de guerra”; o engenheiro espanhol Sergio Toribio, reconhecido por suas ações de resgate de imigrantes; e a ativista alemã Yasemin Acar, que assessorou o Senado na gestão da crise de refugiados no país.
Veja mais detalhes reunidos pela rede Al Jazeera:
Carregada de simbolismo, a ajuda da denominada “Frota da Liberdade” – na qual se encontrava a destacada ambientalista sueca Greta Thunberg -, na delegação que reunia lideranças de sete nacionalidades. A viagem dos solidários aos palestinos sob ação de extermínio aberta mostra o quanto pode ser feito pelos países e povos, e no combate ao genocídio cometido a mando de Netanyahu.
O jornal israelense, Haaretz, destaca que centenas de ativistas organizam uma atividade similar: uma marcha através do Sinai rumo à agem de Rafah, situada na fronteira da Faixa de Gaza com o Egito.
“Atacar os ativistas da Frota tem as mesmas motivações dos maiores assassinatos da história de profissionais de saúde (1.411), funcionários da ONU (203), profissionais da defesa civil (113), professores (800): tornar inabitável Gaza e levar à morte massiva do povo palestino na Faixa”, afirmou a declaração da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).
ONU ESTIMA URGÊNCIA DE “PELO MENOS 500 CAMINHÕES DIÁRIOS DE AJUDA”
“A ajuda a bordo era uma quantidade eminentemente simbólica e não teria feito muita diferença se tivesse chegado aos palestinos famintos em Gaza. A ONU estima que pelo menos 500 caminhões de ajuda sejam necessários diariamente para atender às suas necessidades básicas”, declarou Yara Hawari, dirigente da Rede de Políticas Palestinas Al-Shabaka e doutora em Política do Oriente Médio na Universidade de Exeter, na Inglaterra.
O Madleen foi organizado pela organização internacional “Frota da Liberdade”, que faz campanhas há anos em solidariedade ao povo palestino. Em maio, outro de seus barcos – o Conscience – foi atacado por drones nas proximidades das águas territoriais maltesas. “Os danos foram tão significativos que o navio não pôde continuar sua viagem até Gaza”, disse Yara.
Coordenadora da Al-Shabaka, ela recorda que em 2010 uma flotilha de seis navios da Turquia partiu para Gaza antes de ser interceptada pelas tropas israelenses em águas internacionais. “O maior navio – o Mavi Marmara – foi atacado por comandos israelenses que abriram fogo e mataram nove ativistas e jornalistas – todos cidadãos turcos. Até o momento, as vítimas do Mavi Marmara ainda não receberam justiça”, denunciou.
NOAM CHOMSKY DENUNCIA ISRAEL POR PRISÕES SECRETAS E CÂMARAS DE TORTURA
Diante da brutalidade do crime, o linguista e sociólogo norte-americano Noam Chomsky assinalou que “por décadas, Israel vem sequestrando barcos em águas internacionais entre Chipre e o Líbano, matando ou sequestrando ageiros, às vezes sequestrando-os para prisões em Israel, incluindo prisões secretas/câmaras de tortura, às vezes mantendo-os como reféns por muitos anos”.
“Israel presume que pode cometer tais crimes impunemente porque os Estados Unidos os toleram e a Europa infelizmente ainda segue o exemplo dos EUA”, condenou.
Advogada palestino-americana e organizadora da Frota, Huwaida Arraf aponta que “esses voluntários não estão sujeitos à jurisdição israelense e não podem ser criminalizados por entregar ajuda ou desafiar um bloqueio ilegal”. “Sua detenção é arbitrária, ilegal e deve terminar imediatamente”, enfatizou.
Yara Hawari esclarece que Gaza está completamente isolada de seus vizinhos mediterrâneos há décadas. “O bloqueio aéreo, terrestre e marítimo de Israel começou em 2007, mas mesmo antes disso, as forças navais israelenses monitoravam e restringiam o o à costa de Gaza. Os Acordos de Oslo de 1993 não concederam aos palestinos soberania total sobre suas próprias águas, concedendo-lhes, em vez disso, ao o a 20 milhas náuticas (37 km) da costa de Gaza para pesca, recreação e extração de recursos naturais, como gás. Isso representa apenas 10% do limite de 200 milhas náuticas para países soberanos estabelecido pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar”. Mas mesmo essas 20 milhas náuticas, salientou, “nunca foram respeitadas pelo regime israelense, que restringiu os palestinos a espaços cada vez menores na costa. Isso isolou completamente os palestinos do mundo exterior e teve um impacto desastroso na tradição marítima e na indústria pesqueira de Gaza”.
Desta forma, salientou Yara Hawari, “desde o início do genocídio, os pescadores de Gaza têm sido alvos e mortos, tendo seus barcos bombardeados e equipamentos destruídos. Entre eles está Madleen Kulab , a única pescadora palestina em Gaza, que deu nome ao navio Flotilha da Liberdade. A mãe de quatro filhos foi repetidamente deslocada durante o genocídio e agora está abrigada em sua casa destruída. Seus dias de pesca acabaram”.
Embora o direito internacional aponte que os membros da ONU tenham a obrigação de reagir diante de tamanho genocídio em curso, como o de impor sanções e embargo de armas, “a União Europeia, de onde provém a maioria dos ativistas do Madleen, não apenas renunciou a essa obrigação, como também continuou a fornecer armas a Israel”, esclareceu Hawari.
PROTESTO NESTA QUINTA NA PRAÇA DOS TRÊS PODERES
Movimentos sociais e organizações de direitos humanos se reúnem a partir das 17 horas desta segunda-feira (9), em frente ao Palácio do Planalto, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, para exigir a libertação imediata dos ativistas da Frota, entre eles o brasileiro Thiago Ávila, do Distrito Federal.
“Vamos exigir [do governo brasileiro] medidas mais duras com o Estado Israel, que tem radicalizado o aniquilamento de um povo”, declarou a coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do DF (CLDF), Keka Bagno.
A nota do Itamaraty recorda o princípio da liberdade de navegação em águas internacionais e “insta o governo israelense a libertar os tripulantes detidos”, além de voltar a cobrar o fim das restrições à entrada de ajuda humanitária em Gaza.
DRONES E ARMAS AUTOMÁTICAS CONTRA PACIFISTAS
Segundo relatos dos tripulantes, drones com armas automáticas cercaram o barco e lançaram uma substância branca sobre ele. Sons perturbadores foram emitidos via rádio para desorientar os ativistas, e a comunicação foi interrompida à força. “Eles estão interferindo no rádio, não podemos pedir ajuda!”, denunciou Thiago Ávila, que representou o Brasil na missão, pouco antes de sua prisão.
A ação ocorre no contexto de uma agressão militar israelense que já deixou mais de 54 mil palestinos mortos, segundo o Ministério da Saúde local, e em meio a um bloqueio à entrada de ajuda humanitária em Gaza – considerado ilegal por tratados internacionais e condenado por diversas resoluções da ONU.
Na Itália, a concentração se dará em Roma, no Panteão da capital, para “defender os doze ativistas civis internacionais, incluindo a eurodeputada Rima Hassan e a ativista Greta Thunberg, sequestrados após serem atacados com objetos cortantes pelas forças especiais israelenses”. “Um ato de pirataria militar, planejado com a cumplicidade e o silêncio das instituições europeias”, rechaçaram.
Agredindo o espírito de solidariedade que navegava junto a cada um dos tripulantes do Madleen, o Ministério das Relações Exteriores de Israel qualificou cinicamente a Frota da Liberdade de “iate das celebridades” e disse que todos “os ageiros devem retornar para seus países de origem”.