
Indústria recua sob forte impacto dos juros elevados do Banco Central 3n1q4b
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao quarto trimestre de 2024 (alta de 0,1%), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira (30).
O avanço, no entanto, foi puxado quase exclusivamente pelo setor agropecuário, que cresceu 12,2%. Já a indústria recuou 0,1% e os serviços mal registraram alta de 0,3%, sinalizando, ambos, clara estagnação – reflexo direto da política monetária contracionista do Banco Central (BC), que busca asfixiar – via juros altos – os investimentos e o consumo de bens e serviços no país.
O resultado negativo na indústria geral foi impulsionado principalmente pelo desempenho da indústria de Transformação (-1,0%), segmento que representa mais de 80% do setor industrial, e pela queda da indústria da Construção (-0,8%). Já os ramos da indústria extrativa e de produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos registraram altas de 2,1% e 1,5%, respectivamente.
No primeiro trimestre, a Indústria de Transformação correspondeu a 14,4% do PIB (valor adicionado a preços básicos), enquanto a agropecuária, em seu conjunto, contribuiu com apenas 6,5% no mesmo indicador. Neste ano, como resultado de mais uma safra recorde, o crescimento da agropecuária foi de 12,2% no período.
A agropecuária – setor que mais recebe incentivos financeiros públicos no país (vide o Plano Safra) – no primeiro quadrimestre de 2024 gerou 55.605 novos empregos, enquanto a indústria, como um todo, gerou 190.477 postos de trabalho no país.
No setor de Serviços, que corresponde a maior fatia do PIB (68,8%), o crescimento de 0,3% no trimestre foi impactado negativamente pelo fraco desempenho do comércio (0,3%) e pela retração nos serviços de transporte, armazenagem e correio (-0,6%). Por outro lado, as principais contribuições positivas vieram de informação e comunicação, que registrou um avanço de 3,0%, seguido por outras atividades de serviços (0,8%), atividades imobiliárias (0,8%) e istração pública, defesa, saúde, educação e seguridade social (0,6%).
No ano ado, o crescimento no primeiro trimestre de 1% do PIB foi sustentado pelo Comércio, que avançou 3%, e pela Indústria de Transformação, com alta de 1,6%. O que ajudou para estes desempenhos na época foi, em parte, a redução do nível da taxa básica de juros da economia (Selic) do Banco Central (BC), de 13,75% para 10,5%, entre agosto de 2023 e maio de 2024.
Agora o nível da Selic encontra-se em 14,75%. Conforme o BC, a “política monetária restritiva já tem tido impactos no mercado de crédito, nas sondagens empresariais, no mercado de câmbio, nos balanços das empresas, assim como na moderação de alguns indicadores de atividade e de mercado de trabalho”, diz trecho da última ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC).
Apesar desses fatos, o BC defende que a política monetária deve seguir “em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta”.
Com os juros em níveis exorbitantes, a taxa de investimento no primeiro trimestre de 2025 ficou em 17,8%, mantendo-se baixa para um país que precisa retomar a reindustrialização e melhorar as condições de vida de sua população.
Pela ótica da demanda, o Consumo das Famílias cresceu 1,0% no primeiro trimestre de 2025. No mesmo período de 2024, o avanço havia sido de 2,3%. Portanto, houve uma desaceleração do indicador em relação ao ano anterior.
Esse mesmo movimento de desaceleração também foi observado nas despesas do governo, que saiu de 0,5% para 0,1%, na mesma base de comparação.
Por sua vez, o indicador de Formação Bruta de Capital Fixo, que mede os investimentos em máquinas, equipamentos e construção civil, cresceu 3,1% entre janeiro e março deste ano, sendo abaixo do registrado no mesmo período do ano ado (alta de 4,1%).
Enquanto os principais setores da economia estão sendo desidratados pelos juros altos, o lucro dos bancos disparou no primeiro trimestre deste ano, como por exemplo: Bradesco, o lucro subiu 39,3%, somando R$ 5,86 bilhões; Itaú Unibanco, o ganho avançou 13,9%, somando R$ 11,128 bilhões; Santander, cresceu 27,8%, somando R$ 3,8 bilhões – ambos resultados em relação ao mesmo período de 2024.
Um desempenho magnífico proporcionado pela alta da Selic, que, entre outros efeitos negativos, elevou os gastos do setor público com os juros da dívida pública, atingindo R$ 924 bilhões (7,71% do PIB) no acumulado em 12 meses até abril deste ano.
ANTONIO ROSA